sábado, 30 de junho de 2007

Comentários

A pedidos - especialmente dos colorados - vou abrir mão dos meus poderes absolutos sobre o "Diário". A partir de agora é possível comentar as matérias... podem concordar, acrescentar, corrigir e (se perderem a noção do perigo) me contrariar.
Abusos (como falar mal do Grêmio) serão apagados.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Esmolas

(foto de Lauro Alves / DSM)

Ainda o Carrefour... Chega a ser revoltante o provincianismo que Santa Maria demonstra nesse assunto. A espera pela multinacional francesa lembra Macondo esperando a Companhia Bananeira, em Cem Anos de Solidão. As obras no Edifício Hugo Taylor já começaram, com a pressa que a cidade do pensamento único exige - "não critiquem o desenvolvimento!"


A última pérola, saiu no Diário de Santa Maria de terça-feira. A Prefeitura "está negociando" com o Carrefour em busca de "ajuda" para as melhorias estruturais necessárias para sua instalação e funcionamento. Ora, será que os administradores do Município nunca leram o Estatuto da Cidade? Não sabem que os ônus de grandes empreendimentos como esse devem ser cobrados dos maiores beneficiados, ou seja, da própria empresa? Há algum tempo atrás, quando Porto Alegre era governada pelo mesmo partido do prefeito Valdeci (que, aliás, é o meu partido), a instalação de um shopping custou à empresa a urbanização de uma área de habitação social, além das melhorias estruturais do local. Isso se chama justa distribuição dos ônus e vantagens da cidade.

Mas, por estas paragens, ainda se acredita que o Carrefour vem se instalar aqui movido pelo sentimento altruísta de desenvolver a região. Viva a republiqueta de bananas.


quarta-feira, 27 de junho de 2007

O MST tem muito a ensinar ao agronegócio


Quem contou foi o Estadão (aberto para não-assinantes): Agricultores filiados ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra estão produzindo arroz sem herbicida e vendendo para os EEUU. Os gringos, apologistas dos transgênicos, quando chega a hora de consumir, preferem os alimentos orgânicos, ainda que mais caros. Por isso, mesmo produzindo um pouco menos, os agricultores têm lucros maiores.


Enquanto isso, os "agro-exportadores" - que chamam o MST de "cambada de vagabundos desordeiros" - estão correndo pra plantar os transgênicos da Monsanto, que tem sérias restrições no mercado consumidor europeu e - como visto - até mesmo no estadunidense. Depois choram por melhores preços... têm mesmo que quebrar.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Enquanto a cidade dá um tempo...











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Quando o Grêmio, vindo da segunda divisão, após uma campanha heróica, disputou e perdeu a final do principal campeonato do continente, os colorados (aquela torcida minoritária do RGS) esbaldaram-se. Sem mérito próprio nenhum (caíram ainda na primeira fase), comemoraram o feito do Boca Juniors (aliás, o melhor time do mundo). Nós, os gremistas, suportamos a flauta. Mas, como é próprio desta torcida, não deixamos de acreditar. Ontem veio o troco. Na casa deles...


INTER 0 X 2 GRÊMIO


Um amigo da capital me manda e eu reproduzo a nossa homenagem aos colorados, cuja maior especialidade é mesmo secar:

Deu agora: Lúcio foi multado hoje por passar com gol a 100km/h na avenida Ceará.

Padaria "Olímpico" informa: O sonho acabou. Mas ainda temos chocolate.
EPTC informa: Beira-Rio é Área Azul!!!

Saiu o Pato.. e só ficaram as marrecas

Covardia do GREMIO: 2° melhor da America desconta sua raiva no 7° melhor do estado!!!

Morte!! Expressinho de segunda, atropela Campeão do mundo PIFA!!

Atenção torcedor colorado - Promoção que vai deixá-lo de boca aberta: na compra de uma camisa do Boca Juniors, ganhe dois chocolates do tricolor de brinde.

Com o fogão de 5 bocas, Grêmio cozinha um galo e 11 frangas no domingo






Vale a pena

Não é o objetivo deste espaço, mas não resisti. Do universo de idéias que encontro no meu navegar impreciso (aqui, uma boa rota de navegação), resolvi destacar duas, pela genialidade.

Leiam estes dois textos:

sábado, 23 de junho de 2007

O Esqueleto da Rio Branco


Não importa de onde se olhe. Ele se destaca na paisagem do centro, com sua ossada exposta, sua morte ereta cravada na avenida principal. Há quatro décadas está lá. Sem continuação e sem fim. A Galeria Rio Branco era o sonho dos prósperos investidores imobiliários dos anos sessenta. Um empreendimento inédito para a Santa Maria da época. Fabuloso como um elefante branco.


















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Mas a realidade os surpreendeu. Os proprietários endividaram-se, brigaram entre si e nos tribunais. A obra parou, ruiu e, por fim, foi abandonada de vez. Com o tempo, famílias pobres a ocuparam, fixaram sob seu teto precário a moradia possível.
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Até se pensou em recuperá-la para fins de habitação social. Mas os proprietários - embora não entrassem na obra há quarenta anos - construíram um muro para vedar suas portas aos incômodos habitantes miseráveis. Preferiram que ficasse vazio, atestando à posteridade sua incompetência e seu deslumbramento.
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Do elefante branco, resta o esqueleto que, aos poucos, torna-se mais um símbolo da Cratera Urbana.


(foto de Thaís B.)

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Ainda sobre ruínas e progresso

Edifício Hugo Taylor Av. Rio Branco x Rua dos Andradas (foto Thaís B.)
Este é, seguramente, um dos prédios mais importantes do patrimônio histórico de Santa Maria. Em seu lugar, até o final do ano, estará um hipermercado, pertencente a uma rede multinacional do ramo. Na imprensa, correm versões de que partes do edifício - ou, ao menos, sua fachada - serão conservadas. Tenho dúvidas. O certo é que o o procedimento legal, no que diz respeito à proteção do patrimônio histórico, foi inteiramente ignorado.
A imprensa - como sempre, mais preocupada em convencer do que informar - ignora solenemente os aspectos negativos da instalação da multinacional. Além da perda do edifício, os impactos urbanísticos e econômicos sequer são citados. Atualmente, fala-se em empregos! Obviamente, não se dá importância ao fato de 3/4 desses empregos durarem não mais que 4 meses. Ninguém fala, igualmente, nas vagas de trabalho que serão perdidas quando a concorrência com o hipermercado fechar estabelecimentos locais de comércio. A palavra "ruína" pode ter muitos significados.
Mas, enfim, o que vale é o progresso. Os críticos são sempre uns chatos. Mesmo quando têm razão.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Sobre progresso e ruínas


A velha cidade, pouco a pouco, tijolo a tijolo, cai. Dá lugar a uma cidade nova, de grandes e modernos edifícios, frutos de uma indústria da construção civil que não pára de crescer, alimentada pela demanda dos estudantes e militares vindos de fora.

Nesse processo de “renovação”, casas populares dão lugar a luxuosos edifícios de apartamentos. Afinal, pobre não deve ocupar espaço privilegiado, isso enfeia a cidade. E Santa Maria, como todo município provinciano, não pode perder a oportunidade histórica do progresso e do desenvolvimento.

Toca os pobres pras vilas, que é lugar deles... vamos é fazer prédio de luxo, pra quem paga, pra quem conta!

domingo, 3 de junho de 2007

O espaço público (vazio)


Por um Centro livre de barulho, panfletagem e sujeira.” Assim começa a edição do periódico local A Razão, de 21 de janeiro de 2006. Ano passado, foi proibida a panfletagem e a chamada “poluição sonora” dos carros de som. Na última semana, a pretexto de regular a ocupação do espaço público, forma fechados sete pontos de venda de lanches rápidos (aqueles cachorrões nos quais cada um de nós já tomou uma cerveja de tardezinha ou comeu um cachorro-quente de madrugada), que ocupavam praças, canteiros ou o passeio público. As autoridades da urbe discutem também a venda de churrasquinho e outras formas de uso do espaço urbano.

Certo, o espaço é público, tratava-se de uma apropriação irregular. Mas, diante dessas iniciativas, se impõe a discussão sobre a natureza e a função do dito espaço público. Que uso devem ter tais áreas? O centro da cidade deve ser um local de convergência dessa população tão diversificada, como se observava naqueles barzinhos, ou um ambiente “limpo”, asséptico – e vazio –, conforme preconizam os lojistas “oficiais” e a administração municipal? Quando tanto se fala em limpeza, fico me questionando quem é a “sujeira” que se quer extinguir?

Ambulantes já não podem passar pelo centro da cidade há tempos; camelôs estão eternamente na mira do discurso da “limpeza da Rio Branco”. E eu nunca vi um pipoqueiro por estas paragens. Onde vai parar o higienismo social da elite econômica e política de Santa Maria? Talvez seu ideal seja um centro organizado, “limpo” e deserto...

Se o espaço é público, é do povo e este deve ocupá-lo. Com toda sua heterogeneidade, com toda sua diversidade, com suas relações humanas e econômicas informais. Tudo isso que caracteriza, enfim, uma cidade.
Sobre os decretos:
Sobre o tema, interessante ler A Cidade e a Lei, de Raquel Rolnik. Entre outras coisas, a urbanista analisa a transformação das ruas de espaços de convivência da população em espaços exclusivos de circulação.