Quem costuma passar nas imediações da Praça dos Bombeiros, com certeza, o conhece. É o ébrio local. Toda cidade tem o seu, é uma daquelas figuras indispensáveis, que dão identidade à urbe. Algo assim como o juiz, o padre e o delegado. Só que mais útil.
Com gritos do tipo “negro sujo”, “puta vagabunda”, “viado sem-vergonha”, esse mendigo dá vazão à toda carga de preconceito que a cidade se esforça tanto por disfarçar, esconder embaixo do tapete de polida hipocrisia.
Deficientes físicos, anões, mulheres feias... ninguém escapa do seu escárnio. O ébrio local desnuda a sociedade de sua falsidade. Uma sociedade que nega o machismo explorando as mulheres – sua força de trabalho, seu sexo, sua capacidade reprodutiva. Uma sociedade que nega a homofobia ridicularizando homossexuais e marginalizando travestis. Uma sociedade que nega o racismo enchendo as cadeias de negros.
O ébrio local reflete sua sociedade despida dos véus de eufemismo que a escondem. Esse mendigo bêbado é o nosso mais fiel retrato.
(Com colaboração de Thaís B.)
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