domingo, 3 de fevereiro de 2008

O gene do mal


Assimetria craniana, fronte fugidia, zigomas salientes, face ampla e larga, cabelos abundantes e barba escassa.

Assim um bem intencionado médico italiano do século XIX descrevia o delinqüente nato. Cesare Lombroso, um dos fundadores da chamada Antropologia Criminal, defendia a idéia de que o crime era a manifestação de uma tendência individual e biológica. O criminoso era um doente, caracterizado por determinados estigmas somato-psíquicos e cujo destino indeclinável era delinqüir, sempre que determinadas condições ambientais se apresentassem.

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O criminoso nato é insensível fisicamente, resistente ao traumatismo, canhoto ou ambidestro, moralmente impulsivo, insensível, vaidoso e preguiçoso.
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Para Lombroso, seria possível reconhecer um potencial homicida, por exemplo, através dos traços de seu rosto. Sua teoria, calcada no determinismo natural, influenciou o Direito Penal por muitos anos, até ser quase que inteiramente desacreditada em face dos avanços da Sociologia Criminal.

Entretanto, eis que o século XXI, com suas especulações acerca da genética, ameaça ressuscitar o determinismo biológico de Lombroso. Aqui mesmo, no Rio Grande do Sul, está sendo desenvolvida uma pesquisa com internos da FASE, na qual se destaca – apesar da alardeada “multidisciplinaridade” – o estudo genético dos menores infratores.
Sobre o tema, eu recomendo o excelente texto, em três parte da Katarina Peixoto, na Palestina do Espetáculo Triunfante. No entanto, não posso deixar de dar o meu pitaco:

Causas biológicas para fenômenos sociais
A crença maniqueísta no naturalmente mau e no naturalmente bom, já serviu como justificativa para as Cruzadas, para o extermínio de indígenas e para o holocausto nazista. Ainda hoje, freqüentemente, é usada pelos defensores da pena de morte, por exemplo. É uma tese, sobretudo, conveniente – talvez por isso, tão recorrente.
Se o “mal” é algo intrínseco do indivíduo – neste caso o delinqüente –, não há de se buscar as causas do crime na sociedade. E mais: se a genética explica o crime, porque não explicaria outras mazelas sociais, como a pobreza, por exemplo? Não seriam os pobres naturalmente menos aptos, ou geneticamente predispostos ao fracasso econômico? A riqueza – mais do que a predestinação calvinista – não indicaria uma superioridade genética?
Ou seja: a sociedade é perfeita, o problema são os genes.

Qual ciência?
Em outro debate - a questão das cotas raciais - o argumento “científico” é recorrente, mas desta vez, no sentido inverso. “Não há diferença genética entre brancos e negros” ou “não existe 'raça’ cientificamente” – alegam os mesmos que defendem a diferença genética entre criminosos e “cidadãos de bem”. Novamente, se busca – por ser conveniente – uma explicação biológica para um fenômeno eminentemente social, como se as únicas ciências existentes fossem as naturais e exatas.
Ora, a raça – e racismo – existe a partir do momento em que determinada pessoa sofre discriminação devido a características fenotípicas. É um fato social, que produz efeitos, independentemente de ter respaldo “científico”.
É importante perceber como se inter-relacionam as variantes do mesmo argumento que, na sua síntese, convergem para a tentativa de encontrar explicações para as disparidades sociais fora da estrutura da própria sociedade.
Quem sabe um Lombroso contemporâneo, visitando os presídios brasileiros, concluísse que o criminoso nato tem cabelos crespos, nariz chato, lábios grossos e pele negra, além de ser fisicamente resistente à tortura e moralmente inclinado ao ócio. Não corresponderia tal descrição à grande maioria da população criminalizada no país, formada por negros desempregados?
Não seria conveniente à elite branca e racista ter uma boa explicação científica para a estranha seletividade dos aparatos repressivos do Estado?

4 comentários:

Edinaldo disse...

Na boa, seu "pitaco" não passa de um "pitaco" mesmo. Quando li que você acha que a pobreza define que alguém tem genes ruins, parei de ler, porque minha cabeça não é lixeira para adquirir coisas nojentas. Senhorzinho, procure saber de pessoas que saíram de condições de extrema pobreza e se tornaram pessoas honradas e ricas, o inverso também ocorre, e muito freqüêntemente. Um comentário de puro preconceito e prepotência da sua parte. Lamentável, você que deve genes ruins. Na boa!

Fagner Garcia Vicente disse...

Se tivesse lido até o final talvez tivesse entendido.

Unknown disse...

Caro Edinaldo,

Unknown disse...

Creio que o senhor tenha algum problema com leitura e compreensao de textos, podemos ressaltar neste contexto o elevado indice de analfabetos funcionais no bRASIL.
Talvez valesse a pena o senhoir tentar ler ate o final o texto acima, pois alem de ser bastante interessante,e tambem um texto bastante critico, e totalmente averso ao racisco e ao preconceito.
As palavras citadas em seru comentario e parte de uma critica do autor a ideias ridiculas propostas inicialmente por Lombroso.
Ficou 'feio'pro senhor, tentar criticar um texto, chamando o mesmo de lixo....Um texto sobre o qual voce nao tem o minimo de conhecimento sobre o assunto...Creio que realmente sua cabeca nao tenha mais espacos para lixo, pois nao sabe reconhecer o valor real de um texto....e sua cabeca ja esta repleta de paranoias preconceituosas, pois assim que comecou a ler o texto ja deduziu que o ator estava sendo preconceituoso...Faca me o favor!!!