Depois do último texto surgiram alguns questionamentos. Não de conhecidos de direita (liberais, conservadores, anti-petistas, "céticos" ou como preferirem), mas de amigos da esquerda. É engraçado como isso que conhecemos por política - essa democracia por delegação, baseada num sistema eleitoral - cria falsas dicotomias, todas carregadas de maniqueísmo.
Será que a verdadeira polarização política e social que existe no Brasil hoje é entre os pró-lula e os anti-lula? Será que ela corresponde à relação esquerda x direita? Ou dominados x dominantes, proletariado x burguesia, trabalho x capital? Acredito que não e tentei deixar isso claro no texto anterior.
Se eu duvido da luta de classes? Não. Só acho que ela não se reflete com exatidão na dicotomia governo x oposição, no país atualmente. Talvez o seja na Venezuela, na Bolívia. Talvez tenha se refletido no governo Olívio, no Rio Grande do Sul - na época em que nosso lema ainda era governar pra transformar. Mas não nos governos Lula. Recomendo aos meus amigos a leitura do artigo de Atílio Borón (que ninguém chamará de traidor da esquerda) na Carta Maior, sobre a "estratégia do sim, mas não".
Mas, como já se perguntava Lenin, o que fazer? Atacar o governo, juntar-se ao coro das vaias? Não. Prefiro defender o que eu acredito, contra quem se opor, independente da cor de suas bandeiras. Nesse sentido, mesclado com o dia-a-dia da cratera urbana, vou comentar iniciativas do governo Lula às quais me oponho. Isso não significa aplaudir a oposição, de esquerda ou de direita.
Porque o discurso oportunista dos PSTU e P-Sol da vida quem faz muito bem é a pretensa elite brasileira que, mesmo tendo um governo que mantém seus privilégios, ainda não conseguiu engolir o ex-operário barbudo. Camaradas: vocês não são os donos ou guardiões da esquerda. E seus métodos são muito parecidos com a "elite decente" aí do lado.
Aliás, a "elite brasileira" - ou aqueles que se julgam elite - é mesmo muito ridícula. Se largassem por um momento seu Olavo de Carvalho e dessem uma olhadinha em Caio Prado Jr., Sérgio Buarque de Hollanda ou Celso Furtado, veriam que a elite no Brasil historicamente esteve a serviço de um patrão externo. Lisboa, Londres, Washington. Seus representantes nunca se importaram com esse Brasil que agora "querem de volta". Sua única preocupação sempre foi extrair o máximo de lucro possível. Destruindo o território e matando o povo. Pois bem, continuam extraindo seus lucros (destruindo e matando também). Que mais querem?
Vocês, que se indignam com o governo Lula, mas não se indignam com a Lei anti-greve, com o REUNI, com o projeto de lei "anti-terror", com o lucro dos bancos, com a ineficiência da reforma agrária e da reforma urbana; vocês que gritam "Fora Lula" ou que ficaram cansados de repente; vocês não são elite. Vocês são massa de manobra, fazendo o que lhes mandam fazer.
> A imagem é do blogue de um tal de "Movimento da Ordem e Vigília Contra a Corrupção". Na verdade, são contra o Lula. Só. Até porque ninguém é mais corrupto que a "elite decente", corruptora de todo e qualquer governo, desde D. João VI. O nome do "movimento" me lembrou o lema dos udenistas: "a eterna vigilância é o preço da liberdade". Pessoal sem criatividade. A falta de originalidade é uma das mais marcantes características da política hoje. À esquerda e à direita.
P.S. Ando um pouco pessimista, eu sei. Estou lendo Germinal, de Zola. Trotsky o considerava o maior romance já escrito. O Isaac Deutscher diz isso num dos profetas. Desde quando li a biografia, há anos, que estava para ler a obra. Acho que não poderia tê-lo feito em momento mais apropriado do que agora.
2 comentários:
texto interessante, soh n intendi a agress�o gratuita ao pstu e ao psol... ateh porque voce termina o texto criticando aqueles q criticam o governo mas n�o criticam reuni, lei anti-greve, lei anti-terror... porque a oposi�o de esquerda s�o os unicos que denunciam isso publicamente... vou torcer pra que tenha sido um ato falho seu, porque isso tah parecendo surrealismo!
Luis Manoel,
Eu vejo as categorias (como os servidores) e os movimentos denunciando tais medidas. Eles até podem ser ligados ao PSTU, PSol. Contudo o discurso - principalmente o discurso eleitoral - dos representantes desses partidos é muito parecido (senão idêntico) ao discurso da pretensa elite. Moralismo e ataques pessoais.
Veja sua atuação no congresso. Aliados à pior das direitas, a mais reacionária. Essa "oposição de esquerda" (no Brasil ou aqui na UFSM) somente ajuda a direita, pois não tem base nem representação política para ser uma alternativa.
De qualquer forma, opiniões divergentes enriquecem o debate. Obrigado pelo comentário. F
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