No jornal crateriano A Razão, edição de 09/out, leio a carta indignada de um cidadão de bem. O advogado Marlon Adriano Balbon Taborda (não vá me processar!) escreve irresignado com a permissividade das autoridades locais em relação ao ato do MST na praça Saldanha Marinho (noticiado aqui), no artigo intitulado "O MST, o som e a lei":
Em Santa Maria existe legislação vigente que prevê a não utilização (ou proibição) de carros de som no centro e arredores da cidade? A pergunta é feita pelo fato de que no dia 4 de outubro de 2007, próximo ao horário do meio-dia, diversos cidadãos santa-marienses presenciaram os seres que estavam se dizendo representar o Movimento Sem Terra (MST) manifestarem-se, sendo que tinham um veículo de som que emitia um estridente e altíssimo som que invadia a privacidade e os aparelhos auditivos dos cidadãos de bem que estavam em via pública. Por ironia do destino, tal veículo não foi apreendido. (grifos meus)
Os outros dois parágrafos seguem no mesmo tom. Respeito a opinião do ilustre futuro colega. Aliás, admiro qualquer pessoa com coragem de expor publicamente suas opiniões (assinando embaixo), sejam elas quais forem. Contudo, nesse texto me chama a atenção um elemento: a forma como o autor faz a diferenciação entre os integrantes do MST e os cidadãos de bem. Quem são os tais "cidadãos de bem", aos quais a opinião conservadora sempre se refere? Em algumas ocasiões é acrescentado um outro elemento à expressão: "cidadãos de bem que pagam seus impostos".
Membros do MST não são cidadãos de bem. Os sem-teto também não. Os marginalizados são o oposto disso. Pobre só é cidadão de bem se agüentar calado a exploração, a exclusão e o chicote. Cidadãos de bem só podem participar do "Movimento" Cansei.
A classe média reacionária usa esse auto-proclamado título como forma de diferenciação social. O cidadão de bem é um perene indignado. Indigna-se contra os impostos, contra o moleque que pede esmola, contra a carroça do catador que atrapalha o trânsito, contra os camelôs, contra o barulho, contra o Fome Zero e contra o passe livre. Acha-se injustiçado porque o uísque e os combustíveis subiram ou porque o final da novela não era o que esperava. Para o cidadão de bem, os ricos são trabalhadores e os trabalhadores são bandidos, arruaceiros ou burros. Integrantes de movimentos sociais são seres - algo que não chega a ser exatamente humano.
Afinal, para quem já privatizou a cidadania, o próximo passo é privatizar a humanidade.
4 comentários:
destaca-se que o MST obteve autorizacao para realizar sua manifestacao, da forma como foi. Tanto que inclusive o prefeito municipal falou no carro de som, na saldanha marinho, recepcionando a marcha e apoiando a reforma agraria.
Lembro tambem que pouco tempo atras, no dia do soldado, as forcas armadas utilizaram o mesmo espaco.
observacao - estive em carazinho quinta feira, em uma reuniao com a coordenacao da marcha e liderancas estaduais. O prefeito de Coqueiros do Sul, do PDT, e seu vice, do PMDB, declararam abertamente o apoio a desapropriacao da fazenda guerra. E ainda convidaram a marcha a entrar no munic[ipio de Coqueiros do Sul, oferecendo alojamento. Contraste com a decisao judicial que proibiu a entrada da marcha na comarca de carazinho.
Tens toda a rezaão. A Lei Municipal proíbe carros de som SEM autorização. Portanto, o ato do MST e outros eventos são plenamente regulares.
Sobre os juízes e suas decisões já cansei de falar... são os bacharéis, né meu amigo...
"razão". o palavrinha difícil!
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