quarta-feira, 10 de outubro de 2007

São Borja II - a herança da ditadura

Em atenção à família do ilustre vereador, prefeito, deputado e interventor, reescrevo a matéria sobre os efeitos da ditadura militar sobre São Borja. Mantenho as mesmas posições, evitando personificar a crítica. Reconheço que até mesmo os piores tiranos podem ser, no âmbito pessoal, bons pais e avós carinhosos. Não podemos confundir as coisas. Minhas críticas – que mantenho – foram dirigidas à figura pública que regeu a vida política de São Borja durante três décadas. Como governante e político – não como indivíduo – essa personagem representa tudo (ou quase tudo) que repudio.

Eu poderia – talvez até devesse – iniciar a série sobre São Borja abordando os primórdios de sua história... o primeiro dos Sete Povos das Missões, as guerras por fronteiras, a Guerra Guaranítica ou mesmo a Guerra do Paraguai. Ou, senão, falar dos tempos em que a República era confabulada em suas ruas; Quem sabe falar da Revolução de 30 ou da Legalidade, momentos da vida nacional em que a cidade teve papel de destaque.

Mas não: eu começo a série falando sobre um outro período, bem menos brilhante e mais trágico. A ditadura militar, um tempo de absoluta bestialização da cidade, em que a herança política de Getúlio, Jango e Brizola foi cuidadosamente enterrada. Os milicos e seus títeres civis (como fizeram em todo o país) trouxeram a idade média para a cidadezinha acostumada a discutir os assuntos do Catete e do Planalto.

A ditadura perseguiu inimigos políticos (e inimigos pessoais de seus agentes). Prendeu, torturou, matou. Crimes impunes até hoje. Esquecidos por quase todos, exceto pelos perseguidos, torturados e pelos familiares dos mortos. Os agentes da ditadura, por outro lado, ainda são festejados por seus cúmplices. Após deixarem o poder ditatorial continuaram sendo eleitos pelo povo que trataram de emburrecer. E fizeram sucessores, cuja bandeira continua sendo o latifúndio – alcunhado de “agronegócio”.

A ditadura fez mais. Ela transformou a antiga cidade dialética – dividida entre chimangos e maragatos – que proporcionava o enfrentamento e o debate de idéias, na cidade do pensamento único, que se divide apenas em incluídos (ou privilegiados) e excluídos (ou o povo).

A São Borja que a intervenção militar construiu é a cidade-feudo, onde reina uma elite agrária falida, que faz carreatas pelo perdão de suas dívidas em camionetes último modelo. É a cidade provinciana, que louva os nomes das famílias tradicionais (ou ricas) e despreza seu povo miserável, corajoso e persistente. Enfim, a reprodução em escala maior de uma estância.

7 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, eu sou de São Borja (porém, moro na Cratera) e não sabia que o Jucão tinha morrido! Me senti alheia e desinformada.

Anônimo disse...

Filho da puta sem carater é você,
espera que tu vai ser citado para uma audiência e preso por difamação!!!

Tomacaúna disse...

Calma, caro anônimo, a ditadura acabou. Ao menos, agora, serei citado para me defender, coisa que na época do Sr. Interventor era impensável. Era só no "prende a arrebenta"...

Anônimo disse...

o Fagner, tu é muito infeliz nos teus comentários e ainda não sabes o que diz.

Manoela

Anônimo disse...

É, são borja continua a mesma coisa... velho texas... espero que a unipampa mude alguma coisa. não vi o post original, mas esse tá muito bom. a ditadura não pode ser esquecida.

Otávio

Camila disse...

É muito interessante esta tua colocação F., penso que o período referente à ditadura militar não só foi alienante para os são-borgenses como o foi para todo o Brasil. O fato de eleger-se um ex-interventor depois da abertura política se dá, acredito eu, primeiramente por sua forma de fazer política bastante maleavel e favorável à interesses da elite agrária, em segundo lugar é pela infiltração dos interesses desta elite na mente da população, que sem dar-se conta busca identificar-se com esta elite e não com sua realidade, o que resulta em buscar favorecer candidatos que possam possibilitar o tão almejado desenvolvimento econômico de São Borja; pore´m, sem dar-se conta que este desenvolvimento, cerscimento, lucros, enfim...não vem para si e sim para um pequeno grupo.
É lamentável, e continuará a acontecer este tipo de contracensos enquanto não houver um esclarecimento da população através da educação e do conhecimento de fatos históricos e não simplesmente de heróis criados pela história, pela literatura ou inventados pela politicagem.
valeu, concordo contigo*

Unknown disse...

Eu lamento muito o golpe ocorrido e grande injustiça feita aos nossos líderes e homens integros e patriotas, JOÃO B.M.GOULART, O jANGO e LEONEL DE MOURA BRISOLA. Eu que junto com uma porção de colegas tinhamos grandes ideais e sentimeneto cívico patriota aliado ao amor a nossa terra NATAL, QUERIDA SÃO BORJA, herdada de nossos heróicos antepassado que lutaram contra todas as adversidades da época e, mesmo assim, embora distante dos centros decisórios e governandes, ainda assim produziu pessoas, como APARÍCIO MARIENSE DA SILVA, GETÚLIO DORNELES VARGAS,E OUTROS TANTOS,com sobrenomes, Silva, Escobar, Ferreira, Fagundes, Dutra,Goulart e incontáveis outros,fomos podados pela ditsdura que se instalou no poder. Na época, nós que fóramos presidente dos grêmios ALCEU WAMOZI do CESB, do grêmio ESTUDANTIL BARÃO DE MAUÁ,da Escola Tecnica de Contabilidade, onde formei-me na primeira turma, com o Alfredo Fontella, Mário Sales Soares Fraga, Sargento Iglêcias, e muitos outros, já tínhas fundado a UESB, junto com a Mariza Hoff,Ayr Ledesma, além dos colegas acima, e participávamos dos Congressos Estudantis da UGES, EM Porto Alegre, tinhamos como meta a Presidência da República. Mas passou e duscutir o passado é perda de tempo. Nosso sentimento e desejo de São Borja retorne a pensar grande ainda é muito forte. Permitam os caros responsáveis pelo site e seus visitantes, vou deixar um poema que escrevi sobre o assunto. Desde já um fraterno abraço de um Samborjense amigo:JOSÉ ARTHUR DUTRA DOS SANTOS. Eis o poema.

Meus Poemas quinze
Santa Maria ( RS), 04 de Agosto de 2008.
Autor: JOSÉ ARTHUR DUTRA DOS SANTOS

Título: Patriotismo


Procurei ser útil por onde andei,
Até me sinto um tanto realizado,
Mas há uma gotinha de frustração.
Os ideais nacionalistas a que tenho direito,
Cultivados na juventude de meu peito,
foram aprisionados pela tal revolução.


Tivemos bons mestres como Getúlio,
Jango, Brizola e Pasqualini.
Éramos atuantes na política estudantil.
Até que de repente, obrigados a calar.
Reunião de quatro ou cinco, nem pensar.
Pra evitar a tortura, muitos deixaram o Brasil.


O arbítrio prosperou por muitos anos a fio
E lágrimas escorreram dos olhas da Pátria,
Com o que se passou nos porões da ditadura.
Alguns líderes se refugiaram no exílio,
Como nós, aqui calados éramos, sem brilho,
Patriotas idealistas sob tortura.


Os golpistas até hoje ainda defendem
As razões de tamanho desatino.
Não há defesa do nefasto feito, entre seus filhos.
Haverá maior tortura a um patriota, idealista,
Do que calar e ver o triunfo dos golpistas
Covardemente assassinar seu líder no exílio.

Covarde acordo “Operação Condor”
Manto protetor das ditaduras americanas
Cumprindo ordens que Tio Sam determina:
Silenciar os líderes – assassinar João Goulart
Pra que o país, abandonado à sorte,
Se tornasse presa fácil dessa ave de rapina.


Hoje, da verdadeira história a ser contada,
Haverá de renascer o amor à Pátria, novamente.
Reencarnando espíritos dos mártires libertários,
Para que o País volta a ser livre e forte
E que nunca mais queira o irmão do norte
Patrocinar poderes golpistas e arbitrários.


Que renasça uma Pátria forte e idolatrada.
Que não venha um filho teu fugir da luta,
Na defesa de teu solo mãe gentil.
Que no berço esplêndido seja deitado
Amor, fé, trabalho, progresso e brado
Por esse povo heróico do Brasil.
JOSÉ ARTHUR DUTRA DOS SANTOS.