sexta-feira, 23 de novembro de 2007


Soube que o meu textinho sobre a .txt causou polêmica. Conversei com um dos redatores da revista. Convidaram-me a expor as críticas no próximo número da publicação, o que mostra um comportamento maduro e digno. Da mesma forma, a redação da .txt está convidada a rebater a minha crítica neste espaço. Aliás, isso vai ao encontro da minha disposição de abrir o Diário da Cratera Urbana a textos de outros autores (pois até o despotismo cansa). Além disso, o debate de um tema como a forma de se fazer jornalismo é sempre interessante.

A pedido do Homem-Sanduíche, que comentou a matéria, vou especificar melhor minhas críticas.

1. A capa
Além do código de barras (que achei uma escolha apropriada à mensagem da revista), há uma chamada tipicamente publicitária: no topo da página, junto da foto do “presidente” do DCE, lê-se “DCE: a turbulenta passagem de diretoria e a promessa de um novo rumo”. Eu diria que em toda a campanha, a chapa não pensou em uma frase tão boa. Nem ao menos consta que se trata de uma entrevista. Portanto, passa por ser a opinião da .txt, contrariando a pretensa “isenção” alardeada no editorial.

2. O editorial
Aqui, nada de novo no front. O mesmo discurso da maioria das publicações comerciais. Isenção, crítica, etc., etc. Algo que vai ser desmentido nas páginas seguintes. Aliás, lembro de uma frase – que acredito ser de Boaventura Souza Santos – que dizia algo como “não basta se dizer, descomprometidamente, crítico.” A crítica descomprometida é conservadora, irresponsável, ineficaz.

3. O carro de som
No pé da página 5, uma pequena reportagem sobre a utilização do carro de som. Não é capciosa, mas incompleta. Não aborda a questão da utilização do carro como instrumento de mobilização política, algo que qualquer representante da ASSUFSM ou do DCE, se consultado a respeito, iria referir. Além disso, a legislação regulamenta sim o barulho em frente ao hospital. E ainda: há quatro meses está em andamento o Plano Diretor dos Campi da UFSM, que vai regular questões como essa. Os jornalistas deveriam estar informados sobre isso?

4. “Humanização”
A reportagem da página 6 (esq.), sobre catadores que estão fazendo um curso de informática, não é ruim. Mas o título, “Humanização através da informática”, foi muito infeliz. Quer dizer que, por aprenderem a mexer no mouse e no teclado, os catadores estão virando humanos? E antes eram o quê?

5. Reportagem central
Esta, com certeza, é a pior. Com o título em letras garrafais: “Brechas do Sistema”, a matéria mistura questões completamente diferentes e as trata como problemas estruturais da UFSM. Nessa reportagem, que se diz investigativa, se percebe o profundo desconhecimento dos repórteres acerca da universidade. No primeiro “caso investigado” - as supostas irregularidades na moradia estudantil - é repetida a velha cantilena parcial da Reitoria. Não há o posicionamento da Diretoria da Casa do Estudante Universitário – formada por estudantes – sobre os números apresentados pela administração, embora os mesmos sejam extremamente questionáveis. Mais do que isso: como ocorre com as “investigações” da Veja e assemelhadas, o tom do texto é unilateral e agressivo. É condenatório. Muito parecido com o tom preconceituoso da grande mídia quando fala de favelas. Mas o pior: na página 12, há uma grande foto da União Universitária (espaço que a Reitoria, há muito tempo, quer extinguir e é defendido ferrenhamente pelos estudantes) e, sobre ela, uma foto menor, com uma mangueira desperdiçando água. Detalhe: a cena do desperdício se dá no prédio da Reitoria, não na União Universitária, como a sobreposição de imagens faz crer. Nem a Veja faria melhor.

Os outros dois pontos “investigados” são os gastos com os celulares e com a água potável. Novamente, nenhuma palavra sobre o Plano Diretor, que está em curso há quatro meses e vai tratar desses problemas. “Não foi referido pela administração” – poderão alegar. Mas a reportagem não é investigativa? O Plano Diretor não é exatamente um projeto secreto.

6. A Manchete sensacionalista
Na penúltima página: “MEC DESVIA vagas de professores da UFSM para UNIPAMPA e CESNORS”. No corpo do texto, o leitor (a essa altura já revoltado contra o Ministro da Educação, esse ladrão de professores!) é esclarecido de que houve um acordo do Ministério com a Universidade para que fossem deslocadas vagas para as extensões. E, novamente, falta conhecimento aos jornalistas. O CESNORS é, permanentemente, uma extensão da UFSM, portanto, servidores daquele centro são tão vinculados à UFSM quanto os professores do CCSH, ou do CT. A UNIPAMPA, por enquanto, não existe juridicamente, sendo que cinco de seus dez campi são administrados pela UFSM. Até a criação oficial daquela universidade, seus servidores são servidores da UFSM. Além disso, a matéria não referiu que, para a criação da Universidade do Pampa Gaúcho, foram deslocadas vagas de todas as Universidades Federais para a UFSM e para UFPel, administradoras da nova IFE. Portanto, as 70 vagas pertencem a todo o sistema de ensino superior federal.

7. A entrevista
Para encerrar com chave de ouro, na contracapa, com uma foto de meia página do “presidente” do DCE (que tem três coordenadores-gerais, mas a legenda da foto chama Duda de “presidente”), uma entrevista digna de panfleto de campanha. A única explicação que me ocorre para “aquilo” é que as entrevistadoras fazem parte da gestão “Novo Rumo”. Já referi antes alguns absurdos ditos pelo “presidente” na matéria, além de ataques à nossa gestão que nos renderão direito de resposta na próxima edição da .txt. Mas a introdução da entrevista é uma verdadeira pérola “jornalística” (ou seria publicitária?):

As três gestões anteriores do DCE da UFSM foram lideradas por grupos com idéias semelhantes. Mas, desde 15 de agosto, 44 acadêmicos assumiram o Diretório dizendo ter novas propostas. Mesmo recebendo "só uma maçaneta" na transferência de gestão, a chapa Novo Rumo pretende abrir as portas para discussões da vida do estudante.

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Enfim. Salvo na última matéria, não acredito que tenha havido má-fé por parte dos redatores da .txt. O que há é uma concepção pré-formatada de jornalismo, a qual domina a grande mídia – e boa parte da “pequena”. Falta investigação, conhecimento, estudo.

Talvez, no mundo midiático, a fundamentação seja dispensável. Afinal, a célebre frase de Goebbels nunca foi tão verdadeira quanto em nossos tempos. Mas a imprensa contemporânea a modificou: já não são necessárias mil repetições para transformar uma mentira em verdade. Basta um projeto gráfico arrojado e moderno.


• foto: Goebbels com Hitler (autor desconhecido)

3 comentários:

Anônimo disse...

A respeito de suas colocações acerca da imprensa (de como ela deve se portar), Fagner, sinto que devo relatar algumas de minhas impressões pessoais, bem como o que penso a respeito.

Felizmente, tenho tido, desde mais jovem, a possibilidade de viajar bastante, para outros países, outros continentes. E é realmente gritante a diferença de qualidade e de propósitos entre a imprensa nacional e a estrangeira, especialmente no que diz respeito aos países desenvolvidos. Mais especificamente, a meu ver, aos EUA.

Visitei os EUA há pouco, em outubro. Fiquei maravilhado com o número de publicações existentes sobre os mais variados temas. Mas o que mais me impressionou foi a pluralidade em termos de periódicos que tratam de assuntos políticos e econômicos.

Nos EUA, pode-se ir à banca de revistas e comprar a "American Conservative"(de orientação conservadora tradicional), a "American Interest"(ainda mais conservadora), a "Reason Magazine" (abordagem libertária), a "The New Republic" (democrata, esquerdista em termos americanos). Enfim, há publicações das mais variadas tendências. E a maioria de altíssima qualidade.

Mas o que realmente contrasta com a nossa imprensa é justamente isso: lá, as publicações dizem a que vêm. Não escondem a sua visão. A "American Conservative", por exemplo, declaradamente traz um olhar conservador sobre um determinado fato. Não existe essa mística de "isenção" e de "neutralidade", como mandamentos sagrados a serem obedecidos.

Lá, o máximo que se faz, nesses termos, é colocar duas visões diferentes em relação a um mesmo ponto, em uma mesma matéria. Não se apela à neutralidade fora desses casos. Se um esquerdista quiser comprar uma edição da "American Interest", saberá o que lhe espera. Idem se um conservador adquirir um exemplar da "The New Republic".

Aqui, isso não existe. VEJA e outras não assumem tendência alguma, aliás, não buscam assumir: assim, desagradam tanto ao potencial público conservador quanto aos esquerdistas. Que, por sua vez, contam, em parte, com publicações a eles endereçadas, como a "Caros Amigos".

Já é hora de eliminar esse dogma, essa mística de "neutralidade" e de "isenção". É pelo confronto de diferentes visões que se pode chegar mais próximo à verdade e ao consenso. E isso fortalece a democracia.

-Bruno B. Lauda

Fagner Garcia Vicente disse...

Bruno, eis a razão porque gosto dos liberais: têm tanto orgulho de ser de direita quanto eu tenho de ser de esquerda. Abraço, F

Anônimo disse...

Isso mesmo Senhor F! Prova pra todo mundo que o Senhor não é F de FANFARRÃO! Nem de capitão FÁBIO! O Senhor está de parabéns! Seus argumentos são todos de Fundamento Senhor F! Tem que pega e senta o dedo nessa porra! Vamo passa de 12 esse jornalismo de direita, essa sementinha do mal! Bando de muleques que não sabem o que escrever, muito menos escrever! Hahahahah São eles que Financiam essa merda! O Senhor tem a missão de consertá-la! E o senhor sabe, não é Senhor F? Missão dada é missão cumprida! Agora já sei que encontrei o substituto certo! Alguém que merece vestir esse uniforme preto! Eles nunca serão como o Senhor, Senhor F! JAMAIS SERÃO! Tira eles pra xerife e manda bota na conta do papa! Faz eles pedirem pra sair e dá só na cara! Mostra pra eles quem é que manda nessa porra! Tu é caveira!