sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

O povo do centro apoiou o protesto dos camelôs

Na última terça-feira, num prenúncio do que será a mudança dos camelôs para o dito shopping popular, o centro da Cratera Urbana foi agitado por um protesto de vendedores informais. A causa, segundo a reportagem do Diário de Santa Maria, foi a operação da Brigada Militar que apreendeu mercadorias contrabandeadas.

Normalmente, a polícia age quando os comerciantes fizeram investimentos maiores e estão com os estoques recheados. (Ou quando a propina está atrasada, não sei.) O certo é que as tais “ações de combate ao contrabando” ocorrem de tempos em tempos, sem qualquer regularidade e entremeadas por longos períodos de tolerância.

O caso é paradigmático de uma situação bastante comum e sugere uma reflexão interessante. Há condutas que, embora definidas pela legislação como ilícitas ou, no mínimo, irregulares, são amplamente aceitas pela população, gozando de certo respaldo do Direito Consuetudinário. A venda de mercadorias ditas piratas, embora combatida por campanhas publicitárias caríssimas, não é uma prática rejeitada pela sociedade – ainda que possa sê-lo por algumas camadas sociais. A burguesia comercial torce o nariz, as autoridades fingem que não vêem e o povo adere entusiasticamente.

As bissextas ações repressoras é que são repudiadas, como demonstrou o amplo apoio popular à manifestação dos vendedores ocorrida esta semana. Além de fazer crer que a população não reconhece a reprovabilidade da prática – a qual, em tese, é inerente às condutas ilícitas – a reação dos transeuntes ao protesto demonstra que o comércio informal nas ruas centrais faz parte de uma rotina, de um circuito sócio-econômico identificado com a cultura das pessoas que utilizam aquele espaço, gerando, inclusive, laços de solidariedade.

Há tempos, discutimos aqui a permanência do camelódromo no canteiro central da Av. Rio Branco. Alguém (o autor queira manifestar-se, por favor) argumentou que aquele comércio já fazia parte da cultura do centro da cidade. Creio que a adesão popular ao protesto dos vendedores ambulantes é um forte indício de que o pitaco anônimo acertou na mosca.

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• Fotos de Marina Chapinotto / DSM

2 comentários:

Anônimo disse...

é...mais uma prova da importância de manter as atividades informais que fazem parte do cerne da nossa cultura.
Em relação à ação da polícia (as famosas batidas), considero que se tornaram mais freqüentes quando a pirataria de produtos fonográficos surgiu. Não lembro de batidas feitas em mercadorias como brinquedos, guardas-chuva, etc. (mas posso estar dememoriada). Quando a atividade dos pequenos, que lutam pra conseguir "algum" pra sobreviver atinge o bolso dos grandes empresários (que pagam(?) seus impostos, "pessoas de bem"???!!!), daí sim, é hora de agir...até mesmo porque a pressão destes sobre a policia federal não é pouca...
Bom, sem falar que a pirataria está universializando a cultura, tornando a aquisição de cds e dvds mais acessivel a todos. Quer razão maior para o apoio do povo??

ass.: o mesmo alguém do post que citastes...mas conhecida por ti como uma patricinha alienada...acho q agora sabes qm é, sr F.

Tomacaúna disse...

hmmm. Conheço diversas "patricinhas alienadas", mas apenas uma com capacidade para opinar sobre o assunto.

um beijo pra ti.