domingo, 27 de maio de 2007

O ébrio local


Quem costuma passar nas imediações da Praça dos Bombeiros, com certeza, o conhece. É o ébrio local. Toda cidade tem o seu, é uma daquelas figuras indispensáveis, que dão identidade à urbe. Algo assim como o juiz, o padre e o delegado. Só que mais útil.

Com gritos do tipo “negro sujo”, “puta vagabunda”, “viado sem-vergonha”, esse mendigo dá vazão à toda carga de preconceito que a cidade se esforça tanto por disfarçar, esconder embaixo do tapete de polida hipocrisia.
Deficientes físicos, anões, mulheres feias... ninguém escapa do seu escárnio. O ébrio local desnuda a sociedade de sua falsidade. Uma sociedade que nega o machismo explorando as mulheres – sua força de trabalho, seu sexo, sua capacidade reprodutiva. Uma sociedade que nega a homofobia ridicularizando homossexuais e marginalizando travestis. Uma sociedade que nega o racismo enchendo as cadeias de negros.
O ébrio local reflete sua sociedade despida dos véus de eufemismo que a escondem. Esse mendigo bêbado é o nosso mais fiel retrato.

(Com colaboração de Thaís B.)

sábado, 26 de maio de 2007

Pra não dizer que não falei de flores


Ao estilo "caminhando e cantando"...


Dois anos da ocupação do prédio da Coordenadoria Regional da Educação pelo Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) e estudantes. O povo da Cratera sabe reagir... (Fotos de Thomaz Farias)

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Cidade Cultura



Toda cidade tem seus “subtítulos”. Algumas por motivos históricos, ainda que remotos: “São Borja Terra dos Presidentes”, “São Gabriel Terra dos Marechais” (claro que ambas poderiam se chamar “Terra dos Cemitérios Famosos”, mas não causaria a mesma impressão...) Outras se apegam a um produto característico do município: “Santo Antônio da Patrulha Terra da Rapadura” ou “Bento Gonçalves Terra da Uva e do Vinho”. Outros são hiperbólicos e mentirosos: “Alegrete, a mais gaúcha das cidades”. Ou estranhos, muito estranhos: “Mata, a cidade que era madeira e virou pedra”. Enfim, rincão ou metrópole (Terra da garoa...), todo município tem um subtítulo gabola, pomposo, pretensioso ou simplesmente ridículo.

Santa Maria não ficou atrás. Tranquilamente, na falta de um produto agrícola ou industrial e de atrativos naturais, poderia intitular-se “Terra das mulheres bonitas”. Não seria exagero, quem mora aqui sabe. Ou, vendo por outro lado, “Terra dos muros que segregam as vilas”. Mas, talvez, não tivesse o mesmo apelo.
Entretanto, em face das universidades, da indústria dos cursinhos e sei lá mais o que, os importantes da cidade resolveram a intitular “Santa Maria Cidade Cultura”. A coisa já vem de tempos... e eles levaram a sério mesmo... Em 2006, quiseram concorrer ao título de “Cidade Cultura Nacional”. Pena que, no Brasil, existam cidades como Ouro Preto, Parati, São Miguel das Missões, Rio de Janeiro, Salvador...

A partir de hoje, de quando em vez, serão abordados temas relacionados com a “Cidade Cultura”, na tentativa de descobrir se o subtítulo se justifica.

Na foto, a escultura “Vento Norte” (1996), da artista plástica Ana Norogrando, obra que tranqüilamente enferruja junto ao "saber", no largo da Biblioteca Municipal da Cidade Cultura.
Publicação com a colaboração de Thaís Caetano Bochi.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Muros e Grades - a estética do medo

"Nas grandes cidades, no pequeno dia-a-dia
O medo nos leva à tudo, sobretudo à fantasia
Então erguemos muros que nos dão a garantia
De que morreremos cheios de uma vida tão vazia..."

(Gessinger/Licks)



Numa sociedade de opostos, a guerra entre os que têm e os sem já não é mera figura de linguagem. A elite apresenta suas armas. Constrói seus castelos, enclaves fortificados, reconfigurando o espaço urbano, que passa a ser cada vez mais caracterizado pela estética do medo.

Apesar dos esforços arquitetônicos em conjugar beleza e intimidação, as residências da classe média alta tornam-se "belas" prisões. Paradoxalmente, só enclausurados, os proprietários vivenciam sua fictícia sensação de "liberdade". Mal sabem eles que os muros e grades somente os protegem do seu próprio mal.

Pra saber mais sobre o tema: Cidade de muros. Crime, segregação e cidadania em São Paulo, da socióloga Teresa Pires do Rio Caldeira. EdUSP, 2000. E escute Muros e Grades - Engenheiros do Hawaii

sábado, 19 de maio de 2007

Doses da imbecilidade quotidiana

No mural de um coletivo urbano. Cada vez que eu vejo essas campanhas de quem NÃO USA "drogas", mais eu entendo quem as consome (e quem não consome?). Tem coisas que só entorpecido mesmo.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Cachorros, não entrem

Tapume em torno do "Centro de Eventos" (aquele buraco que estão fazendo no campo do farrezão)... crateras da Cratera... típico de uma cidade governada pela burguesia comercial. Viva o desenvolvimento - também conhecido como privatização e extinção de espaços públicos. Aliás, uma questão pertinente: quem serão os cães que CACISM e cia vão barrar no centro de eventos?