domingo, 30 de setembro de 2007

A governadora se explica aos empresários

Yeda não me deixa trocar de assunto. Ouço na (cobertura amiga da) Rádio Gaúcha que a governadora apresenta aos empresários o novo pacote de medidas de redução do déficit do Estado. As medidas não são nenhuma novidade: "aumento do ICMS, cortes de despesas de custeio, redução de estruturas públicas, venda de imóveis para pagamento de precatórios e ampliação do combate à sonegação". Segundo a edição de terça-feira passada do Zero Hora, integra ainda a proposta a "transferência de serviços para Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips)".

As primeiras pessoas fora da cúpula de governo a ouvirem as explicações de Yeda foram os presidentes da FIERGS e da FEDERASUL. Estes, é claro, pronunciaram-se contra um único ponto da proposta: o aumento de impostos (já que ninguém leva a sério a promessa de combate à sonegação). Detalhe: ficam mantidos os benefícios fiscais já concedidos e garantidos futuros incentivos às empresas que trouxerem novas plantas industriais para o Rio Grande do Sul.

O pacote radicaliza a política de desestruturação do Estado e corte de gastos sociais preconizada pelo governo tucano desde que foi eleito ao Piratini. Além dos prejuízos imediatos, sentidos especialmente pela população mais pobre, essa política tem um conseqüência ainda mais grave. O desmonte da máquina pública, a longo prazo, impossibilita - ou, ao menos dificulta bastante - que um futuro governo de esquerda possa praticar uma política de maior intervenção econômica e social. Isto é, o Rio Grande do Sul pós-tucanato estará entregue à grande mão invisível do mercado.

Minha pergunta: quando Yeda vai se explicar ao povo por tudo isso?

• Foto da Agência Tucana.

Yeda, Jobim e os eucaliptos

O Diário de Santa Maria, na edição do fim-de-semana, traz um nota discreta: "Yeda busca apoio de Jobim". Para quê? Autorizar as monoculturas de eucalipto em terras localizadas na faixa de fronteira do Brasil com Argentina e Uruguai.

Os imóveis localizados na faixa de fronteira (150 km ao longo da linha divisória), embora sejam passíveis de apropriação privada, sofrem algumas restrições, entre elas a proibição de aquisição por estrangeiros. As multinacionais de celulose, através de empresas nacionais de fachada, estão investindo pesado na região, caracterizada por grandes latifúndios improdutivos.

A governadora e o Ministro da Defesa (!), se a apoiar, mostram o quanto estão preocupadas com a defesa da soberania nacional.
• Foto de Mauro Mattos /Piratini - divulgação.

sábado, 29 de setembro de 2007

E a Baixada Melancólica vibrou...

Os coloradinhos estão festejando. O Esporte Clube Internacional de Santa Maria/RS está na primeira divisão do futebol gaúcho, após abater, por 2 tentos a 1, o Esporte Clube Pelotas - adversário direto à vaga na série A do Gauchão 2008. Segundo as emissoras de rádio que transmitiram o jogo, o Estádio Presidente Vargas, mais conhecido como Baixada Melancólica*, há muito tempo não tinha um público tão grande.

A reportagem das emissoras locais flagrou ainda o deputado federal Paulo Pimenta (PT), em plena campanha para a prefeitura, na geral do Presidente Vargas. "Não poderia ter escolhido outro lugar para ver o jogo" - disse à rádio Imembuí.
Tristeza apenas por parte dos cerca de 3 mil torcedores que não conseguiram entrar no estádio, mesmo com o ingresso na mão. A Brigada Militar teve trabalho para impedir o arrombamento dos portões pela massa.

O outro time tradicional da cidade, o Riograndense**, passa por maus momentos. Clube fundado pelos ferroviários no auge da RFFSA, hoje enfrenta uma grande crise financeira. Segundo a tradição de Santa Maria, a rivalidade entre os dois times reflete - ou refletia - o conflito de classes da sociedade local. Enquanto o Periquito é conhecido como o time dos ferroviários e operários, o Interzinho (ou coloradinho) é o clube dos empresários locais.
Eu diria que o momento de um e outro refletem fielmente a situação das classes que, em tese, representam.
(*) Não conheço a origem da alcunha, mas, como vizinho do estádio, posso dizer que seria impossível nome mais apropriado.

(**) Mais conhecido por Periquito. Conta com minha irrevogável preferência, em relação ao interzinho.
• A foto do deputado Paulo Pimenta foi tirada da página da Câmara Federal.
• Matéria editada em 30-set-2007.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Quem matou a mulher do Oswaldo?

Antes das nove, apesar da noite perfeita, os bares estavam fechados. Ninguém parou para ver o acidente no cruzamento. Os bombeiros do resgate vieram contrariados. Os namorados adolescentes não ficaram trocando longos beijos de despedida no portão. No pátio interno do conjunto habitacional, as crianças faziam, livres, todas as artes que nunca tiveram oportunidade de fazer. Não havia nenhum adulto para vigiá-las. Os velhos não obstruíam a porta de entrada com sua roda de chimarrão. Na guarita, o pequeno televisor prendia toda a atenção do porteiro.

Mais alguns minutos e já não se ouvia sequer um carro na rua movimentada. Não havia eletrodomésticos barulhentos ligados. A cidade, de repente, ficou silenciosa, concentrada. E eu consegui ouvir o raro som da natureza urbana. Pela janela vejo um solitário ébrio, tão anacrônico quanto eu, que, perdido em alguma época longínqua de uma lembrança qualquer, não compartilha da grande comoção social.

Todos os cidadãos brasileiros – exceto eu e o ébrio – só querem saber quem matou Thaís.

Percebo que chegou o bloco de comerciais quando os vizinhos, numa espontânea comissão de representantes, batem à minha porta exigindo o imediato desligamento do som. Sem direito à ampla defesa e ao contraditório. É isso ou o linchamento, o apartamento incendiado. O roquenrol atrapalha a novela. Eu sou um insensível anti-social que não se importa com as causas nacionais.

O ébrio tentou uma canção e foi cercado. Escapou porque a novela recomeçava.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Quando o PT virou isso?

Em A Mosca Azul, Frei Betto nos conta a trajetória do Partido dos Trabalhadores de seu surgimento – quando da necessidade de uma representação institucional de um grande movimento emergente no final dos anos 70 – até sua chegada ao governo. Fala das mudanças que ocorreram antes e depois disso. Há pouco tempo, seguindo recomendação do Diário Gauche, li excelente análise da Marilena Chauí sobre as transformações recentes (e as nem tão recentes também) sofridas pelo PT.

Em ambos os textos, está presente um indisfarçável desencanto. Penso que esse é um sentimento comum de grande parte dos petistas, senão da maioria. A pergunta que nos ocorre é “quando (e como) nos transformamos nisso?” Foi o que me perguntei durante os últimos dias, quando a briga interna do PT de Santa Maria, entre os grupos do prefeito Valdeci e do deputado Fabiano Pereira, ganhou as páginas dos jornais. Brigando por espaço, os “caciques” – como a mídia já está os chamando – fizeram seus correligionários protagonizarem momentos verdadeiramente patéticos na Câmara de Vereadores (veja a novela toda no blogue do Claudemir Pereira).



Tudo isso quando se aproxima mais um Processo de Eleições Diretas (PED) do PT, no qual, mais uma vez, não há esperanças de maiores mudanças nos rumos do partido. Aliás, no PT, parece que as mudanças sempre são para pior.


• Foto do Deputado Fabiano Pereira (D) sacada da página do Pacto pelo Rio Grande;

• Foto do Prefeito Valdeci Oliveira (E) tirada da página da Prefeitura Municipal de Santa Maria.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Pelos caminhos da Cratera Urbana

Av. Borges de Medeiros (Bairro Noal/Centro)
R. Tuiuti (Bairro N. Sra. de Fátima)
R. Serafim Valandro (centro)
Av. Rio Branco (Centro)

Trav. São Pedro (Bairro Passo D'Areia)

R. Dona Luísa (Bairro Bonfim)

R. Cel Antero de Barros (N. Sra. do Rosário)


R. Quintino Bocaiúva (Bairro N. Sra. do Rosário)



R. Manoel Ribas (Vila Belga)

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Menos gaudério e mais gaúcho

No apagar das luzes de mais um vinte de setembro proponho uma pequena reflexão acerca do gaúcho e sua representação. Quem quiser uma análise histórica e sociológica mais qualificada, visite o Diário Gauche e veja os ótimos textos de Cristóvão Feil a respeito.

Gostaria de fazer uma breve análise do gaúcho, enquanto figura histórica, e sua representação ideológica atual, especialmente pelo chamado “Movimento Tradicionalista”. Antes, no entanto, gostaria de fazer uma ressalva. Há um elemento nesse debate que deve ser pesado: o gaúcho não é apenas uma personagem histórica ou uma representação cultural, um mito. É um elemento vivo e atual, que sobrevive, transformando-se, adaptando-se à transformação do seu mundo.

O precursor da liberdade

O gaúcho surge como subproduto de uma substancial transformação histórica, com choque abrupto e conflituoso de diversas etnias e culturas no território hostil do pampa. Órfão das raças que o constiutuem, el gaucho, miscigenado genética e culturalmente, percorre o pampa que lhe pertence (não como propriedade, mas como habitat) em busca de uma identidade. É um pária, não aceita patrão, não dura em nenhuma estância e foge dos contínuos recrutamentos forçados para a incessante guerra de fronteiras. Qual seu lado nessa disputa? É espanhol, português? Não. Tampouco é negro, ou índio. É uma figura humana nova, o precursor de um novo povo.

Os dominantes daquele imenso e despovoado território – estancieiros portugueses/brasileiros ou espanhóis/castelhanos – o combatem. O gaúcho é uma praga, um potro xucro, sem cabresto. Assim também as chinas, mulheres livres da família e de outras prisões, são as primeiras gaúchas, emprestando seu ventre à produção desse povo ainda sem identidade.

O gaúcho é o contraponto da estância. A antítese desse mundo sob o domínio absoluto do patrão, onde a terra – mãe de todos – é apropriada por poucos. No mundo del gaucho não há aramado, não há propriedade. Na sua luta contra o cabresto que o persegue e tenta domesticá-lo, o gaúcho é o precursor da liberdade.

A domesticação do gaúcho: o gaudério

Contudo, o gaúcho foi derrotado. Quem venceu foi a estância. Maneado, domado, é preso nos galpões, como os escravos dos quais descende. Domesticado, explorado, faz-se peão, mantendo no íntimo o velho gosto pela liberdade, que se trai em seus olhos tristes ao fitar horizontes largos ou ao fecharem-se para sentir o vento em um galope mais forte.

Mas se a liberdade foi perdida no pampa dividido por cercas, a sua busca por identidade continua. O mundo se transforma, e o gaúcho com ele, pois não é um ser anacrônico, condenado à extinção. O gaúcho do chiripá e da bota garrão de potro, veste hoje a bombacha e o chinelo havaianas, ou a calça lee e o tênis, no corre-corre urbano. Poucos ainda sustentam-se em cima do cavalo. Alguns puxam a carroça nos peraus das grandes cidades, repontando latas, plástico e papelão.

Enquanto isso, os descendentes da oligarquia estancieira, reunidos nos chamados CTGs, recriam a imagem do gaúcho, ao sabor de suas conveniências. O pária, vira patrão. O antigo inimigo da estância se transforma em seu subalterno. Lhe atribuem valores, vestes, costumes que jamais foram seus. Por fim, fantasiam-se e trazem às ruas o mais grotesco arremedo do gaúcho: o gaudério, um estereótipo do mito guasca, impregnado de valores próprios do conservadorismo.

O tradicionalismo inventou um mito e desja imobilizá-lo. Nega as transformações sociais, nega que o gaúcho mude, interagindo com um mundo em mudança. Ora, se não fosse essa incrível capacidade de adaptação do gaúcho, como poderia ter sobrevivido em sua origem? Ou quando aprisionado nas estâncias? Ou então quando expulso destas para as periferias das grandes cidades? O gaúcho não é estático, ele se transforma, mas não se termina. Mudar não significa perder a identidade, mas encontrá-la.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Universidade e Mérito


Recentemente, quando discutíamos a adoção da política de cotas pela UFSM, uma questão que sempre surgia era o "mérito acadêmico". Muitas vezes ouvi o argumento de que os cotistas "tirariam vagas de pessoas que mereceram ingressar no ensino superior" - ainda que todo esse merecimento se resumisse a ter acertado duas ou três letrinhas a mais no gabarito do vestibular...
Na mesma época, quase fiquei surdo ouvindo que o nosso curso - o Direito da UFSM - tinha sido consagrado pelo ENADE como "o melhor do país". O conceito de melhor, neste caso, não ia muito além da capacidade de seus egressos responderem questões objetivas e acríticas (o que absolutamente não tem nada a ver com o exercício do Direito em qualquer profissão).

Enfim, em ambas as situações, o mesmo argumento: mérito, mérito, mérito... Pois bem, eis que nesta semana, um colega - formando desse "melhor curso de Direito do país" e opositor ferrenho da política de cotas - surpreende-me com uma descarada consulta: será que, assim por acaso, eu não teria, ou não saberia de alguém que tivesse, uma monografia para vender?

Não respondi. Estava pensando no tal de mérito acadêmico... ele é mais parecido com dinheiro do que eu supunha.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

São Borja

Me criei num lugarzinho chamado Cerro do Ouro, na divisa entre os (hoje) municípios de Santo Antônio das Missões, Garruchos e São Borja. Mas esta última foi sempre minha referência de “cidade”. Entretanto, antes de sair de lá, jamais pensei que, pouco depois, trabalharia justamente com esse tema.

É certo que nossas vivências são fundamentais para a formação de conceitos e posições ideológicas. Sendo assim, muito de minhas idéias sobre Urbanismo e Direito Urbanístico têm raízes nas ruas de São Borja, onde passei boa parte da minha vida e travei os primeiros combates com esse monstro de concreto e asfalto, vulgarmente chamado de cidade.

Passado alguns anos, voltei à São Borja e fiz um esforço em reconhecê-la, vê-la com olhos de primeira visita. Esforço vão. Os significados da cidade só surgem pelas relações que estabelecemos com seus elementos e de nada serve ignorar lembranças e sentimentos que evocam. Seria negar a própria essência do espaço urbano, como espaço fundamentalmente humano, definido pelas relações sociais que determina e expressa.

De agora em diante, publicarei algumas matérias acerca de São Borja, típica cidade gaúcha da região da Fronteira, destacando o contraste com Santa Maria. Inevitavelmente, a análise de uma e outra vai estar impregnada das minhas impressões pessoais. Assim, inicia-se uma série aqui no Diário que, embora não trate diretamente desta Cratera onde atualmente resido, retorna às origens do blogue (ainda não consigo me acostumar com esse termo), tratando de Urbanismo – de uma forma bem pouco ortodoxa, é verdade.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Eles dizem o que é certo ou errado

A cena se repete. Outro juiz trabalhista (desta vez gaúcho) desrespeitado pelas vestes de um trabalhador desempregado e outra audiência suspensa. Já comentei esse tipo de atitude (e esse tipo de magistrado) algumas semanas atrás.
Ontem, a Agência Estado publicou:
Juiz suspende audiência por causa de bermuda no RS

O juiz Paulo André de França Cordovil suspendeu na terça-feira uma audiência trabalhista no fórum de Lagoa Vermelha, no noroeste do Rio Grande do Sul, porque o reclamante Lício Campo estava de bermuda e chinelo de dedo. Como a medida provocou polêmica, o magistrado deu entrevista para explicar sua atitude, que considera pedagógica. "Não se trata de discriminação e nem de posicionamento pessoal meu, mas de preservar a postura num lugar de respeito à instituição Judiciário", justificou hoje.
Desempregado, Campo viajou 45 quilômetros, de Sananduva, onde mora, até o fórum de Lagoa Vermelha para participar da audiência de conciliação com a Nova Era Indústria de Mineralização Ltda, empresa para a qual trabalhou durante sete meses. Ao chegar, foi visto de bermudas pelo segurança do prédio, que avisou o juiz. Cordovil recebeu o advogado Gardel Pértile, registrou em ata que o autor da ação não estava com traje compatível com o decoro de ambiente, citando bermuda e chinelo de dedo, e remarcou a audiência para o dia 9 de outubro.

Como foi avisado no saguão que não seria admitido na sala de audiências, o trabalhador diz que se sentiu constrangido. Pértile considerou o rigor do juiz exagerado. "Ele poderia ter feito a audiência e advertido o reclamante para que viesse vestido adequadamente na próxima vez", pondera, para revelar que está estudando a possibilidade de mover uma ação por danos morais contra a União. Para evitar novos contratempos, Campo já declarou que vai vestir a calça que tem no armário e conseguir uma camisa nova até o dia da audiência.

O juiz admite que as pessoas da região se vestem de um modo simples, mas destaca que trajes esportivos não são adequados ao ambiente do Judiciário. Disse ainda que, por enfrentarem invernos rigorosos, os gaúchos têm calças em seus guarda-roupas. Também destacou que uma portaria de 2002 veda a entrada de pessoas vestindo bermudas, calções, camisetas de educação física e calçando chinelos de dedo no prédio do Tribunal Regional do Trabalho e entende que isso deve ser aplicado também às audiências do primeiro grau. "A Justiça do Tribunal não é mais merecedora de respeito do que a de primeira instância".

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

O Rio Grande do Sul vive a chamada Semana Farroupilha, o que traz à baila um assunto surrado, mas sempre polêmico: nosso gauchismo. O sociólogo Cristóvão Feil, redator do Diário Gauche, publica uma série de textos sob o título de "Por que o Rio Grande do Sul é assim", em que investiga a razão da classe dominante rio-grandense renegar os valores da típica revolução burguesa promovida pelo positivismo castilhista e cultuar a derrota farroupilha.

Sua análise de parte da nossa história, além de muito qualificada, é interessantíssima. Clique nas letrinhas azuis aí em baixo e leia. Não é obrigatória a concordância.

Parte I - Por que o Rio Grande do Sul é assim

Parte II - A guerra civil de 1893-1895

Parte III - A revolução burguesa no RGS

Parte IV - A construção da hegemonia castilhista


Em breve comentarei o tema. Por enquanto, vejam os fragmentos do poema de Mano Terra, "Solo y Libre", colados ali na barra lateral. Quem quiser ler a poesia inteira, siga este atalho para a Página do Gaúcho.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Furacão Yeda devasta Emater

As mudanças climáticas assustam os produtores de alimentos. Na região das Missões, o pessoal já olha com desconfiança para o sol entrando, vermelho - prenúncio de outra estiagem. Porém, mal sabem que a maior ameaça é o furacão que há meses ataca o Rio Grande do Sul. É o furacão Yeda.

A última vítima foi a Emater. Em sua política de corte de "gastos", a governadora demitiu 10% do quadro da empresa de extensão rural, acarretando prejuízo aos pequenos produtores gaúchos, que ficarão sem assistência técnica justamente na época do plantio (quando precisam dos projetos para obterem financiamentos, especialmente o PRONAF).

Conforme matéria de hoje do Diário de Santa Maria, na região central, nove escritórios municipais da Emater ficaram sem técnicos ou assistentes sociais, dezoito tiveram redução na equipe e um teve de fechar as portas porque todos foram demitidos.
O diretor geral da Secretaria Municipal de Desenvovimento Rural, ouvido pelo jornal A Razão, explica que a Prefeitura tinha um convênio com a Emater, o qual, com a redução drástica de pessoal, não poderá ser mantido nas mesmas condições. Ildo Callegari não acredita na redução de gastos alegada pelo governo estadual: "A tal economia que a governadora diz conseguir com a dispensa destes funcionários não existirá. Vamos perder, e muito, na produção agrícola do estado."

Acrescente-se às perdas na safra a indenização que deverá ser paga aos funcionários demitidos e cai por terra o argumento da economia. Quem conhece um pouquinho da realidade agrícola do Estado sabe que a Emater, antes mesmo das demissões, encontrava sérias dificuldades em atender aos agricultores. Ainda assim, o trabalho dos extensionistas vem sendo fundamental, especialmente para a agricultura familiar. Os funcionários da Emater não costumam rezar pela cartilha do agronegócio, incentivando tecnologias alternativas de produção.

Talvez esteja aí o grande motivo da renovação dos quadros da empresa. Mudar a cultura da Emater, pela mudança de seus funcionários. Quem sabe no final do governo Yeda não teremos a Emater prestando assistência técnica somente para as grandes monoculturas de soja transgênico e eucalipto?

E o pessoal acha que o problema é a seca...
imagem do furacão Yeda: Blog Celeuma

segunda-feira, 3 de setembro de 2007