sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Quem matou a mulher do Oswaldo?

Antes das nove, apesar da noite perfeita, os bares estavam fechados. Ninguém parou para ver o acidente no cruzamento. Os bombeiros do resgate vieram contrariados. Os namorados adolescentes não ficaram trocando longos beijos de despedida no portão. No pátio interno do conjunto habitacional, as crianças faziam, livres, todas as artes que nunca tiveram oportunidade de fazer. Não havia nenhum adulto para vigiá-las. Os velhos não obstruíam a porta de entrada com sua roda de chimarrão. Na guarita, o pequeno televisor prendia toda a atenção do porteiro.

Mais alguns minutos e já não se ouvia sequer um carro na rua movimentada. Não havia eletrodomésticos barulhentos ligados. A cidade, de repente, ficou silenciosa, concentrada. E eu consegui ouvir o raro som da natureza urbana. Pela janela vejo um solitário ébrio, tão anacrônico quanto eu, que, perdido em alguma época longínqua de uma lembrança qualquer, não compartilha da grande comoção social.

Todos os cidadãos brasileiros – exceto eu e o ébrio – só querem saber quem matou Thaís.

Percebo que chegou o bloco de comerciais quando os vizinhos, numa espontânea comissão de representantes, batem à minha porta exigindo o imediato desligamento do som. Sem direito à ampla defesa e ao contraditório. É isso ou o linchamento, o apartamento incendiado. O roquenrol atrapalha a novela. Eu sou um insensível anti-social que não se importa com as causas nacionais.

O ébrio tentou uma canção e foi cercado. Escapou porque a novela recomeçava.

Um comentário:

Unknown disse...

essa ta de mata,hehehehe
vou me juntar a vcs, não sei o q aconteceu, mas cidade e o Brasil pararam para ver o beisterol da televisionado no país.