domingo, 20 de janeiro de 2008

Artigo: Espaço Público na Cidade Contemporânea II

Leia a 1ª parte aqui


A Problemática do Espaço Público na Cidade Contemporânea II
por Letícia Castro Gabriel
O imaginário da cidade
O imaginário social, representado por um conjunto de sistemas simbólicos de idéias e imagens de representação coletiva, corresponde às representações das manifestações culturais, de forma que os aspectos contextuais da dinâmica espacial e social podem vir a ser reconhecidos como característicos de um espaço social, implicando um sentido de lugar. Sendo assim, a necessidade de socialização inerente à condição humana, tende a configurar “territórios” não apenas espaciais como também abstratos onde diferentes grupos vão interagir segundo seus interesses particulares. Assim, pode-se identificar a cidade tanto através de percepções físicas (sistema viário, de usos, edilício), como também através de símbolos, valores, crenças, culturas, memória, que se justapõem ou se interpenetram configurando assim, o imaginário social (Mello, 2002).
Dessa forma, o imaginário social caracteriza-se por ser um componente fundamental da história e da memória de uma coletividade que, através de vínculos sociais e referências comunitárias, a sociedade atualmente se apóia, mesmo que de forma distante e frágil.
A cidade contemporânea
Até então, os conceitos da cidade tradicional apontavam para uma idéia de cidade baseada na centralidade, estruturada, definida e organizada em sua totalidade, na qual os espaços públicos são territórios demarcados, consolidados no espaço e no tempo através das formas, usos e significados historicamente relevantes. No entanto, na cidade contemporânea, os fenômenos introduzidos pela mundialização (capitalismo transnacional de base pós-industrial, modo informacional de produção, recolhimento da subjetividade), geraram descentralização, dispersão e fragmentação, acabando por interferir nas coordenadas espaço-temporal, que até agora ofereciam referência, identidade e sentido ao espaço urbano e que intensificam a percepção do espaço público como uma dimensão desestabilizada e errática da cidade, inteiramente anômico, degradado e desvalorizado (Arroyo, 2005). Sendo assim, a cidade contemporânea é o espaço símbolo da mobilidade, onde a vida cotidiana se organiza a partir do tempo mais do que do espaço, se estrutura em termo de itinerários diários, com ritmos impostos por pautas de trabalho e ócio, dias úteis e fins de semana, e os gestos repetitivos dos deslocamentos e do consumo (Crawford, 1999), espaços onde há preponderância dos fluxos, informações, pessoas ou mercadorias conectadas em redes cuja máxima função é a dinamização do sistema territorial e econômico, de forma a parecer opor-se à lógica tradicional estabelecida dos lugares e com o discurso da identidade.
Ainda, a definição de cidade, com enfoque sobre a modernidade e estendendo-se à pós-modernidade, caracteriza-se como uma síntese do sistema por meio do qual a sociedade constrói a imagem de si mesma e de suas relações com o espaço e o território, abarca também a idéia de que a cidade atual é um campo experimental por excelência, sejam estas experimentações (culturais, produtivas, teóricas, artísticas ou arquitetônicas) bem-sucedidas ou geradoras de frustrações (Abascal, 2006), explicitando as condições de constante mudança referentes à fugacidade e a transitoriedade. No entanto, há uma busca da identidade, do reconhecimento na diversidade, o lugar em meio à rede de nós ou fragmentos urbanos, ao mesmo tempo em que definimos uma nova forma de abordagem espacial, aquela que abarca o estranhamento e o lugar.
Sendo assim, percebe-se uma alternância, um fluxo que vai do espaço público (material, normativo, estruturado e estruturante) ao público (narrativo, simbólico, fluente, débil). O espaço público pré-concebido passa a dar lugar à experiência particular e própria, sendo um processo permanente de discussão e de definição, variando de indivíduo para indivíduo e de grupo para grupo, transformando permanentemente o âmbito do urbano através de movimentos e ações, sejam subjetivas e coletivas, sendo uma experiência de ação que modifica o espaço público dando lugar a episódios do público. O público é o efeito dessa ação de viver na realidade eminente da vida cotidiana, na qual os homens se vêem incorporados a determinadas situações tal como eles mesmos as definem no contexto de sua vida na cidade (Arroyo, 2007).
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Este é um artigo assinado. O seu conteúdo é mérito e responsabilidade da autora e pode ou não refletir a opinião do redator do Diário da Cratera Urbana.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gracias, índio velho, pelas palavras que, por razões óbvias(priorizar a institucionalidade da proposta), pensamos mas não dizemos. Sempre tem um pêlo duro são-borjense ou não por aí para completar o recado. Já lincamos a Cratera na República. E atualizei no Carteiro do Poeta casanova (no bom sentido, http://carteirodopoeta.blogspot.com/), que andou meio sumido e agora está de volta. Eu e o Cezar também apresentamos juntos o "Tribuna Livre" na rádio comunitária Butuí FM, todo sábado das dez e meia ao meio-dia. No último transmitidos pela web em caráter experimental, gravamos e vamos repetir esta semana e, se não formos impedidos, no próximo sábado também. O programa era diário, mas o "poder é perigoso, meu cumpadre" (segundo Mano Lima) cortou nossas asinhas e ficamos sabadais. Há bração.