São Borja ocupou um papel de destaque em muitos momentos da história brasileira. Não só por Getúlio ou por Jango. Foi ali, ao redor da Praça XV, que se instalou a primeira das reduções jesuíticas conhecidas como Sete Povos das Missões. A chamada Guerra do Paraguai teve naquelas paragens uma batalha decisiva. Em 1888, de sua Câmara de Vereadores, liderada por Aparício Mariense (sentado, à esquerda), partiu a Moção Plebiscitária Republicana, propondo um plebiscito acerca do regime de governo do país. Os proponentes foram exilados pelo Império, porém, um ano mais tarde, o movimento iniciado por sua moção culminava na Proclamação da República.
No entanto, menos de um século depois, a histórica cidade de terra vermelha encontrava-se em situação bem mais triste. Não havia sequer ruínas da civilização guranítica e a casa do ideólogo da República dera lugar ao prédio da CRT. O município do presidente deposto, João Goulart, era governado por um interventor, mandalete de milicos e representante da oligarquia agrária conservadora.
A herança desse tempo bem menos heróico foi uma sociedade avassalada, oficialmente baseada no puxa-saquismo e na ignorância ostensiva, onde não poderia haver qualidade pessoal mais apreciada que a hipocrisia. A velha elite provinciana, acostumada a ser sustentada pelo adubo-papel, faliu assim que a mesada do Banco do Brasil acabou. Deu aula de como perder tudo, menos a pose, a arrogância, o preconceito.
Assim era a São Borja dos anos 90, uma cidadezinha poeirenta, que sequer conhecia direito as quimeras do seu passado brioso, sonhando com a cantilena manjada de todo politiqueiro de plantão: desenvolvimento! indústria! E sobretudo: ponte!
Imagino que as gordas senhoras da elite local tenham franzido o cenho, contrariadas, quando o que se disse foi Universidade Pública!
Pois bem, a Universidade Federal do Pampa (foto ao lado) - provisoriamente administrada pela UFSM - instalou-se em São Borja e, pelo visto, está conseguindo o impossível: romper com a herança maldita dos tempos do Sr. Interventor e seus asseclas - quero dizer, correligionários.
Digo isso porque das bandas da fronteira chega a voz da Radioweb República, inaugurada 120 anos após a Moção Plebiscitária Republicana de Aparício Mariense. E pelo "editorial" de arrancada, publicado no blogue da rádio, o que vem por aí é o resgate daquela São Borja que tinha a audácia, a ousadia, de querer entrar para a história.
2 comentários:
Sr!
Ao som da radioweb República saúdo este belíssimo post!
Abraços...
hahaha
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